Last Night in Soho combina suspense, nostalgia dos anos 60 e uma estética impecável, abordando exploração, abuso e os perigos de romantizar o passado
A Noite Passada em Soho ou Last Night in Soho lançado em 2021, é um thriller psicológico que mistura mistério com uma nostálgica imersão nos vibrantes anos 60. Dirigido por Edgar Wright, conhecido pelo estilo visual dinâmico e narrativas criativas (como em Baby Driver e Scott Pilgrim Contra o Mundo), o filme presta uma homenagem ao cinema clássico e à música da época, enquanto aborda temas sombrios e complexos.
A trama de Last Night in Soho segue Eloise, uma jovem tímida e sonhadora que se muda para Londres para estudar em uma renomada faculdade de moda. Desde o início, percebemos que ela não é uma garota comum. Criada no interior da Inglaterra pela avó após a morte da mãe, Eloise possui um dom peculiar: visões do sobrenatural. Esse sexto sentido, inicialmente tratado de forma sutil, logo se torna o centro da história.
Ao alugar um quarto em uma antiga casa no bairro de Soho para fugir da hostilidade dos colegas de dormitório, sua vida toma um rumo inesperado. Na primeira noite, ela é transportada, em sonhos, para a Londres de 1966. Lá, assume a perspectiva de Sandie, uma jovem ambiciosa que aspira a ser cantora. Enquanto Eloise é tímida e introspectiva, Sandie é confiante, glamourosa e determinada a conquistar a cidade. No entanto, o conto de fadas rapidamente se transforma em um pesadelo.
Referências ao Giallo e estética impecável
Para os fãs do gênero Giallo, popularizado por mestres como Dario Argento, Last Night in Soho é um prato cheio. Elementos como luzes vibrantes em vermelho e azul, espelhos e reflexos simbólicos, além de um mistério intrigante, são utilizados com maestria. Contudo, enquanto Argento foca no ocultismo, Wright adota uma abordagem mais psicológica, criando uma experiência única no gênero.
A direção de arte é impecável. A Londres dos anos 60 é recriada em detalhes – figurinos, cenários e clubes noturnos imersivos. A cinematografia de Chung-hoon Chung, conhecida por seu trabalho em Oldboy (2003) ( Me and Earl and the Dying Girl, It, Zombieland: Double Tap, Uncharted, Obi-Wan Kenobi, e Wonka), cria um equilíbrio perfeito entre o glamour e o terror. As transições entre o presente e o passado são fluidas e criativas, deixando o público imerso na dualidade do mundo que Eloise experimenta.
Trilha sonora: uma viagem no tempo
A trilha sonora, cuidadosamente selecionada por Wright, mistura hits icônicos dos anos 60, como uma versão melancólica de Downtown por Anya Taylor-Joy. Músicas de Siouxsie and The Banshees, The Who, Dusty Springfield e The Kinks ajudam a criar uma atmosfera emocional que conduz a narrativa. Veja abaixo:
Last Night in Soho (Original Motion Picture Soundtrack) clique aqui para ouvir no Spotify
No. | Titulo | Artista |
1. | “A World Without Love“ | Peter & Gordon |
2. | “Wishin’ and Hopin’“ | Dusty Springfield |
3. | “Don’t Throw Your Love Away“ | The Searchers |
4. | “Beat Girl” | The John Barry Orchestra |
5. | “Starstruck“ | The Kinks |
6. | “You’re My World“ | Cilla Black |
7. | “Wade in the Water (Live at Klooks Kleek)” | The Graham Bond Organisation |
8. | “Got My Mind Set on You“ | James Ray |
9. | “(Love Is Like a) Heat Wave“ | The Who |
10. | “Puppet on a String“ | Sandie Shaw |
11. | “Land of 1000 Dances“ | The Walker Brothers |
12. | “There’s a Ghost in My House“ | R. Dean Taylor |
13. | “Happy House“ | Siouxsie and the Banshees |
14. | “(There’s) Always Something There to Remind Me“ | Sandie Shaw |
15. | “Eloise“ | Barry Ryan |
16. | “Anyone Who Had a Heart“ | Cilla Black |
17. | “Last Night in Soho“ | Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich |
18. | “Neon” | Steven Price |
19. | “Downtown (A Capella) †” | Anya Taylor-Joy |
20. | “Downtown (Uptempo) †” | Anya Taylor-Joy |
21. | “You’re My World †” | Anya Taylor-Joy |
Camadas de mistério e crítica social
O filme explora a desconexão entre a idealização dos anos 60 e sua realidade sombria. Ao mergulhar nos sonhos de Sandie, Eloise descobre uma história de exploração, abuso e violência. Wright também critica a romantização do passado, expondo desigualdades escondidas sob o brilho da era.
Elenco de peso
Thomasin McKenzie é cativante como Eloise, transmitindo autenticidade e evolução emocional. Anya Taylor-Joy, como Sandie, combina confiança e vulnerabilidade, enquanto Matt Smith equilibra charme e ameaça. Diana Rigg, em sua última atuação, adiciona profundidade ao papel da Sra. Collins, conectando passado e presente.
Last Night in Soho vai além de ser apenas um thriller psicológico; é uma obra que nos transporta para um mundo visualmente deslumbrante enquanto levanta questões profundas sobre o peso da nostalgia e a romantização do passado. Com atuações impecáveis, uma trilha sonora envolvente e uma estética marcante, Edgar Wright entrega um filme que combina o melhor do cinema clássico com um olhar crítico e contemporâneo. É uma experiência cinematográfica que cativa, emociona e permanece com o espectador muito tempo após os créditos finais.