Crimes do Futuro (Crimes of the Future, 2022)

Crimes do Futuro (Crimes of the Future, 2022)

Uma Distopia Corporal Que Divide Opiniões

Crimes do Futuro (Crimes of the Future), dirigido por David Cronenberg, marca o retorno do cineasta ao gênero que definiu sua carreira: o body horror. Este filme carrega consigo o peso das expectativas criadas pelas obras icônicas de Cronenberg, como A Mosca (1986) e Videodrome (1983), que exploraram os limites do corpo humano e as implicações de sua evolução tecnológica.

Em Crimes do Futuro, o diretor apresenta uma narrativa distópica que mistura arte, evolução humana e decadência social, desafiando o público a refletir sobre o significado do progresso e os limites da humanidade. O filme provoca opiniões polarizadas: para alguns, é uma obra filosófica brilhante, enquanto outros a consideram lenta e aquém do impacto dos clássicos do diretor.

Uma Distopia do Prazer e da Dor

Em um futuro distópico, a humanidade está em um processo de mutação, onde o corpo humano se adapta de maneiras estranhas e perturbadoras. Saul Tenser (Viggo Mortensen), um homem que sofre de dores crônicas, descobre possuir a capacidade de desenvolver novos órgãos em seu corpo.

Ele transforma sua condição em uma forma de expressão artística, realizando performances cirúrgicas ao lado de sua parceira Caprice (Léa Seydoux), onde seus órgãos são removidos e exibidos como obras de arte.

Nesse mundo, a dor física foi praticamente eliminada, e a mutilação corporal substituiu o sexo como principal fonte de prazer. As apresentações de Saul provocam tanto admiração quanto repúlgia, questionando os limites entre arte, ciência e decadência humana.

Reprodução IMDB
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Desenvolvimento dos Personagens

Saul Tenser (Viggo Mortensen)

Saul é o ponto central da narrativa, e sua luta contra as dores crônicas é tanto física quanto metafórica. Ele representa a transformação do corpo humano como um novo tipo de tela para a arte, desafiando as normas sociais e os limites da evolução biológica. Mortensen entrega uma performance profundamente introspectiva, retratando um homem que é simultaneamente forte e vulnerável, alienígena e humano. Sua relação com Caprice adiciona camadas de complexidade emocional, pois juntos eles exploram os significados de criação e destruição.

Caprice (Léa Seydoux)

Caprice é muito mais do que uma assistente de Saul; ela é uma colaboradora artística e um contraponto emocional. Seu papel vai além das cirurgias, pois ela também busca sua própria afirmação como artista, enquanto navega pelas nuances de sua relação com Saul. A interpretação de Seydoux adiciona intensidade e vulnerabilidade ao filme, mostrando uma personagem dividida entre a admiração e a necessidade de individualidade.

Timlin (Kristen Stewart)
Enquanto o trio principal funciona bem, a personagem Timlin, interpretada por Kristen Stewart, é uma escolha controversa. Sua performance, marcada por uma energia nervosa e hesitante, dividiu opiniões – com muitos comparando-a ao desempenho monótono de sua personagem em Crepúsculo.

Narrativa e Ritmo

É aqui que Crimes do Futuro começa a perder parte de seu público. O ritmo lento e a falta de explicações para certos elementos deixam a experiência frustrante para alguns espectadores. A ideia central – de que mutilações e dor são o novo prazer – é fascinante, mas o filme parece se arrastar em vez de mergulhar completamente em suas próprias propostas.

Reprodução IMDB
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Cenas Memoráveis

  • As performances cirúrgicas de Saul são visualmente impactantes, misturando beleza e grotesco de forma hipnotizante. Essas cenas provocam uma reflexão sobre o papel da dor e do corpo na arte contemporânea.
  • Os encontros clandestinos em becos são perturbadores e reforçam o clima de decadência. Essas cenas mostram como a mutilação se tornou um substituto para a intimidade em uma sociedade desumanizada.
  • O clímax do filme é carregado de simbolismo e provocações filosóficas, deixando os espectadores com perguntas sobre os limites da evolução e do prazer.

Fotografia e Cinematografia

A direção de arte de Crimes do Futuro é uma aula de como criar atmosferas densas e memoráveis. A estética biomecânica, com mobílias grotescas e dispositivos clínicos futuristas, dá ao filme uma identidade visual única. Cada cenário reforça o sentimento de isolamento e alienação, enquanto a paleta de cores sombrias intensifica o clima de decadência.

Reprodução IMDB
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Trilha Sonora

Howard Shore, colaborador frequente de Cronenberg, compõe uma trilha sonora que é tanto minimalista quanto perturbadora. Os sons, cuidadosamente escolhidos, complementam as imagens grotescas, criando uma experiência sensorial completa. A música não é apenas um acompanhamento, mas sim parte integral da narrativa.

Reprodução IMDB
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Referências e Inspirações

  • A Mosca (1986): A transformação corporal como uma forma de exploração da humanidade e do horror é um tema compartilhado.
  • Videodrome (1983): Assim como em Crimes do Futuro, Videodrome investiga como a evolução tecnológica pode alienar e transformar os indivíduos.
  • Alien (1979): A influência de H.R. Giger é evidente na estética biomecânica das mobílias e dispositivos do filme.
Reprodução IMDB
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Vale a Pena Assistir?

Crimes do Futuro não é um filme convencional. Ele exige paciência e uma mente aberta para absorver suas reflexões filosóficas e sua narrativa visualmente desconfortável. Para os fãs de Cronenberg e para quem aprecia histórias desafiadoras, este é um trabalho que vale a pena ser explorado.

No entanto, aqueles que buscam um enredo mais direto ou um ritmo mais dinâmico podem encontrar dificuldades em se conectar com o filme. Seja como for, Crimes do Futuro é uma obra que deixa marcas, estimulando reflexões sobre o corpo, a evolução e os limites da arte.

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