A Substância (The Substance, 2024)

A Substância (The Substance 2024)

Um Retorno Triunfal de Demi Moore no Terror Psicológico e Body Horror

A Substância (The Substance, 2024) marca o retorno triunfal de Demi Moore ao cinema, com uma performance poderosa em um papel que parece ter sido feito sob medida para a atriz. Ao receber o roteiro escrito e dirigido por Coralie Fargeat, Demi declarou que o texto “tinha tudo a ver com ela” e que precisava participar do projeto. Essa conexão não é coincidência: o enredo reflete elementos profundos da própria experiência de Demi na indústria do entretenimento.

Nos anos 1990, Demi Moore era um ícone absoluto de Hollywood, estrelando sucessos como Ghost (1990), Proposta Indecente (1993) e Até o Limite da Honra (1997). Assim como sua personagem Elisabeth Sparkle em A Substância, Demi também enfrentou os altos e baixos da fama, aprendendo a lidar com as expectativas de um público obcecado por juventude e perfeição.

No filme, Elisabeth é uma artista lendária que, após o auge de sua carreira, foi relegada ao esquecimento. Em busca de relevância e rejuvenescimento, ela recorre a uma tecnologia revolucionária que promete transformar sua vida – mas as consequências são devastadoras. Demi entrega uma performance profundamente emocional, tornando A Substância (The Substance, 2024) tão pessoal quanto universal.

Reprodução IMDB
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Reflexos de uma Nova Era

A narrativa acompanha Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma artista que brilhou intensamente nos anos 1980, mas que agora luta para se reinventar em um mundo obcecado por padrões impossíveis de beleza. Quando uma tecnologia inovadora lhe oferece a chance de criar “a versão ideal” de si mesma, ela aceita o desafio, sem imaginar o pesadelo que se aproxima.

Essa tecnologia utiliza uma substância de cor amarelo-neon para moldar Sue, uma versão perfeita de Sparkle interpretada por Margaret Qualley. A princípio, Sue parece a solução ideal para todos os problemas de Elisabeth, mas logo se torna uma ameaça – não apenas física, mas também existencial. Sue possui seus próprios desejos e ambições, transformando-se em uma adversária implacável.

Margaret Qualley entrega uma atuação brilhante, capturando a dualidade de sua personagem com maestria. Sue é simultaneamente cativante e assustadora, representando a perfeição e seus perigos ocultos.

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Margaret Qualley: A Nova Geração de Talento

Margaret Qualley está se firmando como um dos maiores talentos de sua geração. Conhecida por suas atuações em Era Uma Vez em… Hollywood (2019) e na aclamada série Maid (2021), ela traz para A Substância uma performance multifacetada que eleva o filme. Como Sue, a versão idealizada de Elisabeth, Qualley transita entre momentos de vulnerabilidade e uma presença ameaçadora, impressionando pela naturalidade com que encarna a dualidade da personagem.

O trabalho físico de Qualley é especialmente notável. Cada movimento parece coreografado para transmitir a perfeição quase artificial de Sue. Sua atuação magnetizante é prova de que ela já é uma atriz consolidada no cenário internacional.

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O Ativador: A Substância Que Altera Tudo

No centro da trama está o ativador, uma substância revolucionária que molda o corpo humano em sua forma ideal. Mais do que um elemento narrativo, o ativador funciona como uma poderosa metáfora para as ferramentas utilizadas pela sociedade para buscar padrões impossíveis de beleza.

A substância transforma o corpo humano em um campo de experimentação, mas também expõe o alto custo – físico e emocional – dessas transformações. Sua aparência viscosa e quase viva reforça a ideia de que essas mudanças vão além do superficial, afetando profundamente a identidade.

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Dennis Quaid: Um Papel Repulsivo

A misoginia da indústria do entretenimento ganha forma no personagem Harvey, interpretado por Dennis Quaid. O nome é uma clara referência ao notório Harvey Weinstein (ex-produtor condenado por três acusações de estupro e agressão sexual), e Quaid entrega uma performance que mistura asco e caricatura de maneira brilhante.

Harvey é um produtor executivo nojento, cuja presença domina a tela com closes distorcidos que intensificam sua repulsividade. Ele mastiga grosseiramente sua comida enquanto vocifera frases repletas de senso comum, simbolizando a hipocrisia de um sistema que descarta mulheres em prol de padrões impossíveis.

Embora Harvey seja um caricato e grotesco, suas ações refletem algo muito mais profundo: as estruturas de poder que perpetuam a exploração e o descarte de mulheres. Quaid encarna essa figura com uma intensidade que o torna tão detestável quanto memorável.

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O Body Horror

O body horror é um dos elementos mais marcantes de A Substância, servindo como uma ferramenta poderosa para explorar temas como identidade e obsessão pela aparência.

  • A Substância em Si: Visualmente impactante, a substância lembra elementos de clássicos como Re-Animator (1985), trazendo um toque de nostalgia.
  • Transformações Corporais: As metamorfoses de Elisabeth e Sue são tanto perturbadoras quanto emocionalmente carregadas, destacando os efeitos psicológicos das mudanças extremas.
  • Crítica Social: O filme faz uma análise contundente da cultura das redes sociais e da busca incessante pela perfeição.

 

 

Cenas Que Dão Agonia

  • A Criação de Sue: A cena em que Sue emerge como a versão perfeita de Elisabeth é visualmente deslumbrante e profundamente perturbadora. Envolta em uma textura viscosa, a nova criação personifica a beleza grotesca.
  • O Confronto no Estúdio de Harvey: Essa cena intensa explora as dinâmicas de poder entre Elisabeth e Harvey, culminando em um momento de pura tensão e subtexto emocional.
  • A Cena Final: Remetendo ao clássico Carrie, a Estranha (1976), o desfecho é uma explosão de emoção e violência, trazendo uma catarse brutal.
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Comparações e Inspirações

Coralie Fargeat se inspirou em várias obras e temas para criar A Substância (The Substance, 2024):

  • Re-Animator (1985) A substância ativadora e suas consequências lembram o soro que dá vida a cadáveres no clássico de Stuart Gordon.
  • A Mosca (1986) O body horror como metáfora para transformações físicas e emocionais está profundamente alinhado com o trabalho de David Cronenberg.
  • Carrie, a Estranha (1976) A cena final e o arco emocional de Elisabeth refletem o clássico de Brian De Palma.
  • Psicose (1960)
    A luta psicológica entre Elisabeth e sua criação ecoa o embate entre Marion e Norman Bates, além de explorar os horrores internos e a desconstrução da personalidade. O isolamento emocional de Elisabeth também reflete os aspectos sombrios das dinâmicas exploradas por Alfred Hitchcock.
  • O Iluminado (1980)
    A ambientação de A Substância (The Substance, 2024) carrega ecos de O Iluminado: espaços amplos e opressores, silenciosos, mas cheios de tensão (ex.: o longo corredor vermelho com o carpete e o banheiro do estúdio) A ideia de um colapso psicológico alimentado por isolamento e obsessão é compartilhada entre as duas narrativas.
  • A Cultura dos Filtros e Redes Sociais – A busca por versões idealizadas de nós mesmos é uma crítica direta à cultura digital.
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Vale a Pena Assistir?

A Substância (The Substance, 2024) é uma experiência cinematográfica que vai muito além do convencional. Visualmente deslumbrante, o filme é uma obra-prima de enquadramentos meticulosos e escolhas estéticas ousadas. Cada frame parece uma pintura, onde as cores contam uma história própria: os tons vibrantes de Elisabeth, em vermelho, amarelo e azul intensos, contrastam de forma simbólica com os tons pastel de Sue (Margaret Qualley), reforçando a dualidade entre criadora e criação.

A direção de Coralie Fargeat eleva o filme a outro patamar. Os espaços amplos, quase intimidadores, são utilizados de maneira magistral para destacar a vulnerabilidade de Elisabeth e a presença imponente de Sue. A sonoplastia, por sua vez, é um show à parte: cada ruído, cada sussurro e cada impacto é cuidadosamente amplificado para criar desconforto e tensão, envolvendo o espectador em uma experiência imersiva e sensorial.

Mas não é apenas bonito de se ver – ele é profundamente emocional e provoca reflexões importantes. A entrega física de Demi Moore e Margaret Qualley é impressionante. Moore canaliza anos de experiência para trazer camadas de profundidade à sua personagem, enquanto Qualley utiliza sua fisicalidade para personificar a perfeição inquietante de Sue.

A Substância (The Substance, 2024) é um convite irresistível, ele desafia o público a olhar além das aparências, confrontando temas como identidade, perfeição e os custos de nossas ambições mais profundas.

A Substância (The Substance, 2024)
A Substância (The Substance, 2024)

 

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Uma resposta

  1. Ótima análise, Paola! Eu não tinha me dado conta de tantas referências!
    É realmente um filme que vale a pena ver! Uma crítica importante à cultura da perfeição inalcançável que vivemos.

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