Um mergulho num horror from hell
O conceito de maldade é frequentemente explorado no cinema de horror de diferentes formas, mas poucos filmes conseguem imergir o espectador de maneira tão profunda que o faz sentir como se estivesse assistindo a algo proibido e amaldiçoado. Essa é a essência de Longlegs, dirigido por Oz Perkins. O longa conduz o espectador a uma experiência tátil e visceral sobre a natureza do mal, utilizando imagens perturbadoras e uma atmosfera claustrofóbica para criar um terror inesquecível, que permanece na mente mesmo após o término.
!! Curiosidade: Oz Perkins é filho de Anthony Perkins, o ator que interpretou Norman Bates no clássico Psicose (1960), dirigido por Alfred Hitchcock. Essa ligação familiar com um dos maiores ícones do terror psicológico é frequentemente mencionada como uma influência no estilo de Oz, que tende a explorar o horror de maneira introspectiva, características também presentes em filmes como Gretel & Hansel e The Blackcoat’s Daughter.
Sinopse
O filme segue a jovem agente do FBI, Lee Harker (Maika Monroe), cuja intuição apurada e talento natural atraem a atenção do experiente agente Carter (Blair Underwood). Reconhecendo a habilidade única de Lee em conectar pistas de maneira instintiva, Carter a recruta para uma investigação em andamento: capturar o serial killer Longlegs (interpretado pelo Nicolas Cage, que está irreconhecível parecendo uma senhora de meia-idade com demonização facial haha). Este assassino macabro é tão elusivo e enigmático que a busca por ele esfriou há anos, deixando um rastro de crimes inexplicáveis.
Conforme Lee se aprofunda no caso, ela começa a perceber que está lidando não apenas com um assassino em série, mas com algo mais sombrio e perturbador. As pistas tornam-se cada vez mais desconexas e, ao mesmo tempo, assustadoramente pessoais. O confronto entre Lee e Longlegs culmina em um desfecho aterrorizante, marcado por cenas brutais e um mal indizível que parece transcender o humano.
Desenvolvimento das Personagens
Lee Harker é uma protagonista multifacetada. Enquanto sua capacidade intuitiva é um dom, ela também carrega o peso de uma personalidade introspectiva e dificuldades em se conectar emocionalmente com os outros. Maika Monroe interpreta Lee com uma mistura de fragilidade e determinação, mostrando uma personagem que é ao mesmo tempo vulnerável e corajosa. Lee é o coração da narrativa, e seu desenvolvimento ao longo do filme é uma jornada fascinante de autodescoberta diante do mal absoluto.
O agente Carter, interpretado por Blair Underwood, é o mentor e contraponto emocional de Lee. Sua experiência e compaixão ajudam a equilibrar a inexperiência e as peculiaridades de sua jovem colega. O relacionamento entre os dois é construído de forma cuidadosa, proporcionando momentos de conexão que contrastam com a atmosfera sombria do filme.
Nicolas Cage entrega uma atuação impressionante como Longlegs, criando um personagem que é ao mesmo tempo repulsivo e hipnotizante. Em vez de explorar em detalhes suas motivações, o diretor opta por mantê-lo como uma figura sobrenatural, quase mitológica, cuja presença paira como uma sombra sobre toda a narrativa. Cage aproveita ao máximo essa ambiguidade, transformando Longlegs em uma entidade inesquecível.
Cenas Tensas
As cenas de tensão em Longlegs são cuidadosamente elaboradas para criar um horror que cresce de forma quase insuportável. Um dos momentos mais marcantes é o primeiro encontro presencial entre Lee e Longlegs. A sequência é um exemplo brilhante de como som e imagem podem trabalhar juntos para amplificar a tensão. Durante a cena, os batimentos cardíacos de Lee são utilizados como parte da trilha sonora, criando uma atmosfera opressiva que faz o espectador compartilhar da ansiedade da personagem. A iluminação sombria e os enquadramentos fechados intensificam ainda mais a sensação de claustrofobia e perigo iminente.
Outro destaque são as cenas de crime que revelam a brutalidade de Longlegs. Cada local é meticulosamente montado para transmitir o impacto emocional de seus atos, enquanto pequenos detalhes subliminares — como silhuetas demoniacas escondidas — adicionam uma camada de paranoia ao filme. Esses elementos visuais sugerem que o mal está sempre presente, espreitando nas margens da percepção.
Referências e Inspirações
Longlegs claramente bebe da fonte de clássicos como O Silêncio dos Inocentes e Seven: Os Sete Crimes Capitais, mas o diretor Oz Perkins traz uma abordagem própria, explorando temas metafísicos e psicológicos.
A direção de arte merece destaque, com uma paleta de cores sépia que evoca uma sensação de nostalgia inquietante. Esse visual vintage, combinado com o design de produção detalhado, reforça a ideia de que o mal retratado em Longlegs transcende o tempo e contamina tudo o que toca.
A inspiração no trágico caso de JonBenét Ramsey, uma menina de seis anos encontrada morta no porão de sua casa em 1996 também é usado como base no roteiro. JonBenét era uma pequena miss, conhecida por participar de concursos de beleza nos Estados Unidos. Na noite de Natal, seus pais relataram seu desaparecimento e encontraram uma carta de resgate. Horas depois, o corpo da menina foi descoberto na residência, evidenciando sinais de tortura, traumatismo craniano e estrangulamento. Apesar das investigações, o crime permanece sem solução até hoje.
O diretor Oz Perkins revelou que um detalhe específico desse caso real influenciou a criação do personagem central de Longlegs. Antes do crime, os pais de JonBenét haviam encomendado uma boneca em tamanho real da filha, vestida de forma idêntica, que foi encontrada no porão da casa. Essa imagem perturbadora de uma boneca replicando a criança assassinada serviu como base para a construção do assassino fictício do filme, que utiliza bonecas em seus rituais macabros.
Trilha Sonora e Cinematografia
A trilha sonora de Longlegs é um elemento crucial para sua efetividade como filme de terror. Composta por sons quase subliminares e ruídos ambientes distorcidos, ela cria uma sensação constante de desconforto. Momentos-chave, como o uso dos batimentos cardíacos de Lee, mostram como o som pode ser integrado à narrativa de forma inovadora e impactante.
A cinematografia também se destaca, com enquadramentos cuidadosamente planejados que criam uma sensação de isolamento e vulnerabilidade. Detalhes visuais, como olhos inumanos escondidos nas sombras ou figuras voyeurísticas que desaparecem rapidamente, contribuem para a atmosfera de terror. Cada cena é projetada para manter o espectador em um estado constante de alerta.
Vale a Pena Assistir Longlegs?
Longlegs é um filme que desafia o espectador a encarar o mal em sua forma mais pura e desconcertante. Com atuações brilhantes, direção ousada e uma atmosfera que permanece com você muito depois dos créditos finais.
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