“Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência…”
Em tempos de Covid-19, é quase impossível não pensar em como a ficção pode espelhar a realidade. A Gripe (The Flu, 2013), o filme sul-coreano de suspense apocalíptico dirigido por Sung-su Kim, tornou-se ainda mais relevante nos últimos anos. Ele que explora os horrores de uma pandemia descontrolada, consegue ser impactante de uma forma diferente de Contágio (2011). Enquanto o longa americano é mais clínico e realista, A Gripe aposta no elemento do desastre e no drama humano, prendendo o espectador com uma intensidade quase claustrofóbica.
Embora tenha sido lançado anos antes da Covid-19, A Gripe ganhou atenção renovada durante a pandemia, com muitos espectadores comentando como a obra antecipa várias das emoções, medos e desafios enfrentados em tempos de crise global.
Quando a Epidemia Chega
A história se passa em Bundang, uma cidadezinha próxima à capital Seul, que se torna o epicentro de uma nova e mortal epidemia. Tudo começa quando o corpo de um contrabandista infectado com um vírus letal é encontrado em um contêiner. O vírus, altamente contagioso e transmitido pelo ar, mata em apenas 36 horas e se espalha rapidamente, colocando toda a Coreia do Sul em alerta máximo.
No centro da trama estão Kang Ji-koo (Hyuk Jang), um bombeiro dedicado, e Kim In-hae (Soo Ae), uma médica e mãe solteira que tenta proteger sua filha Mi-reu (Park Min-Ha) enquanto busca entender e conter o vírus. À medida que o caos se espalha, a tensão aumenta tanto na esfera pública, com a luta para controlar a epidemia, quanto na esfera pessoal, com a conexão emocional crescente entre Kang, In-hae e Mi-reu.
O filme não economiza em mostrar os desafios logísticos, éticos e humanos de lidar com uma crise desse nível: hospitais lotados, medidas de quarentena severas, desespero coletivo e decisões difíceis que colocam vidas em risco. Essa mistura de ação, emoção e reflexão torna A Gripe uma experiência única e intensa.
Similaridades Assustadoras
Um dos aspectos mais marcantes de A Gripe é como ele parece antecipar eventos reais que vivemos durante a pandemia de Covid-19. O filme aborda temas como o pânico social, as dificuldades na implementação de medidas de contenção, a importância da ciência e, claro, o impacto emocional e psicológico em indivíduos e comunidades. Esses elementos tornam a história ainda mais envolvente e próxima de nossa realidade.
Durante o início da pandemia de Covid-19, A Gripe foi alvo de fake news. Circularam
boatos de que o filme se chamava Coronavírus e que teria “previsto” a pandemia global. Essas alegações foram rapidamente desmentidas, incluindo por veículos como o G1, que destacou que a obra nada tinha a ver com o coronavírus, mas sim com um vírus fictício. Apesar disso, a repercussão mostrou como o filme conseguiu capturar o zeitgeist, tornando-se uma peça relevante na cultura pop durante um momento de crise global.
Curiosidades Sobre o Filme
- Inspiração Realista
Embora o vírus retratado em A Gripe seja fictício, os criadores do filme consultaram especialistas em epidemiologia para garantir que os aspectos médicos e científicos fossem plausíveis. Isso ajudou a criar um retrato crível de como uma pandemia pode se desenrolar. - Locações Autênticas
As cenas em Bundang foram filmadas em locações reais da cidade, conferindo autenticidade às imagens de caos urbano e às medidas extremas tomadas pelas autoridades no filme. - O Impacto Cultural do Filme
Durante os anos de 2019 e 2020, quando a pandemia de Covid-19 estava no auge, A Gripe se tornou um dos filmes mais assistidos em plataformas de streaming na Coreia do Sul e em outros países. Sua popularidade cresceu justamente porque muitos espectadores o viam como um reflexo perturbador do momento. - Tensão e Drama Pessoal
Além de ser um filme de desastre, A Gripe também explora as relações humanas e os sacrifícios feitos durante uma crise. A relação entre Kang, In-hae e Mi-reu é o coração emocional da história, mostrando que, mesmo em meio ao caos, o amor e a compaixão podem prevalecer.
Cenas Impactantes e Temas Relevantes
Sem entrar em spoilers, A Gripe apresenta várias cenas que ficam gravadas na mente do espectador, tanto pela sua intensidade visual quanto pela carga emocional. Desde multidões desesperadas tentando escapar da quarentena até dilemas éticos enfrentados pelos personagens, o filme não poupa esforços para mostrar o lado mais sombrio e humano de uma pandemia.
A forma como o filme retrata a resposta do governo e das autoridades de saúde é particularmente interessante, levantando questões sobre responsabilidade, transparência e prioridades em tempos de crise. Há momentos em que as decisões tomadas para “o bem maior” geram consequências devastadoras para indivíduos, colocando em destaque o conflito entre o coletivo e o pessoal.
Comparações com Outros Filmes e o Impacto da Gripe
É inevitável comparar A Gripe com outros filmes de pandemia, como Contágio (2011). Enquanto Contágio é mais focado no aspecto científico e nas respostas institucionais, A Gripe adota uma abordagem mais emocional e dramática, com cenas que lembram filmes de desastre como Guerra Mundial Z (2013). No entanto, o tom coreano, que mistura ação, emoção e uma dose de crítica social, dá ao filme uma identidade própria.
A Coreia do Sul é conhecida por produzir doramas e filmes que exploram intensamente as emoções humanas, e A Gripe não é exceção. Ele consegue equilibrar momentos de grande ação com cenas íntimas e emocionantes, criando uma experiência completa para o espectador.