Um Mergulho no Terror Sensorial e Contemplativo
Hoje falaremos de A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017), um filme austríaco-alemão de terror de 2017, escrito e dirigido por Lukas Feigelfeld. Ambientado nos Alpes do século XV, o longa nos convida a uma experiência sensorial e contemplativa, explorando temas sombrios como isolamento, superstição e a fragilidade da mente humana.
A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017) é um dos filmes mais diferentes sobre bruxas que você provavelmente verá. Com sua abordagem única, que mistura terror psicológico e um estudo sobre trauma e loucura, ele é o tipo de obra que você vai amar ou odiar.
Curiosidades Sobre o Filme
- Um Trabalho de Tese e Financiamento Coletivo
A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017) começou como a tese de faculdade do diretor Lukas Feigelfeld e foi realizado com recursos provenientes de financiamento coletivo. Isso só torna o resultado final ainda mais impressionante, considerando a qualidade da cinematografia e da narrativa. - Trilha Sonora Sensorial
A trilha sonora é assinada pela banda de dark ambient MMMD, que optou por sons atmosféricos em vez de músicas tradicionais. O uso de sons naturais – respirações, ruídos da floresta e o silêncio opressivo – cria uma experiência imersiva que complementa perfeitamente a atmosfera do filme. - O Significado do Título
O título Hagazussa é derivado de um termo alemão medieval usado para descrever “demônios femininos” ou “bruxas”. Essa conexão histórica reforça o tema do filme, que explora a maneira como as mulheres eram demonizadas e perseguidas na Idade Média.
Solidão e Superstição nos Alpes do Século XV
A história segue Albrun, uma jovem que vive isolada com sua mãe em uma cabana nos Alpes austríacos do século XV. Ambas enfrentam a exclusão social, vivendo em solitude até que, em uma noite sombria, são confrontadas por homens mascarados em peles de cabra e chifres. Esses homens as acusam de serem bruxas e ameaçam queimá-las vivas.
Logo após esse evento, a mãe de Albrun adoece gravemente e acaba falecendo, deixando a jovem sozinha na cabana. Quinze anos depois, encontramos Albrun mais velha, vivendo de maneira semelhante à sua mãe. Agora mãe de um bebê, ela continua a criar cabras e vender leite para sobreviver, ainda isolada de seus vizinhos que a veem como uma bruxa.
O filme é dividido em quatro atos: Shadows (Sombras), Horn (Chifre), Blood (Sangue) e Fire (Fogo). Cada ato mergulha mais fundo na psique de Albrun, explorando a transformação de uma mulher marginalizada e traumatizada em alguém delirante, moldada por uma sociedade regida pelo medo, superstição e perseguição religiosa.
Atmosfera e Sensorialidade
A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017) é uma obra profundamente sensorial. Com pouquíssimos diálogos, o filme depende de sua cinematografia, trilha sonora e ambientação para construir sua narrativa.
- Fotografia e Ambientação
A fotografia é deslumbrante, capturando a vastidão fria e opressiva dos Alpes. A escuridão, a neve e os cenários naturais contribuem para criar uma sensação de isolamento e melancolia que reflete o estado emocional de Albrun. Cada quadro parece uma pintura, com composições que transmitem tanto a beleza quanto a ameaça do ambiente ao redor. - Som e Silêncio
A trilha sonora de MMMD é minimalista, composta por sons da natureza, ruídos da floresta e a respiração de Albrun. Essa escolha intensifica a imersão do espectador, destacando o isolamento da protagonista e o desconforto crescente conforme sua saúde mental se deteriora.
Um Estudo Sobre Trauma e Psique
Mais do que um filme sobre bruxas, A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017) é uma análise sobre os efeitos do isolamento, do trauma e da marginalização.
A Demonização das Mulheres
Albrun, como muitas mulheres na Idade Média, é vítima de uma sociedade profundamente supersticiosa e misógina. Ela é vista como uma bruxa não por suas ações, mas por sua existência isolada e independente. O filme explora como essas crenças moldaram não apenas a visão da sociedade, mas também a maneira como essas mulheres se viam.
Saúde Mental e Psicose
A jornada de Albrun é marcada por uma crescente psicose, exacerbada pelo isolamento e pelos abusos que sofreu ao longo de sua vida. A narrativa apresenta uma imagem empática e perturbadora de uma mente aterrorizada e doente, mergulhada em delírios causados tanto por fatores internos quanto externos.
Superstição e Religião
O filme também aborda como a religião e a superstição foram usadas como ferramentas de controle e opressão, criando um clima de paranoia que justificava atos de violência e exclusão.
Cenas Impactantes e Perturbadoras
Sem revelar spoilers, é importante destacar que A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017) contém cenas difíceis de assistir, abordando temas como estupro, canibalismo e masturbação feminina. Esses momentos não são gratuitos, mas servem para aprofundar a narrativa e explorar as camadas mais sombrias da experiência de Albrun.
O ato final, Fire, é particularmente intenso, trazendo uma conclusão visceral e indigesta que deixa o espectador abalado. Essa sequência é um exemplo de como o filme utiliza o horror não apenas para chocar, mas para oferecer uma visão sombria e poética da condição humana.
Comparações e Influências
A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017) compartilha semelhanças temáticas e estilísticas com outros filmes do gênero, incluindo:
- A Bruxa (2015)
Ambos exploram o isolamento, o impacto da superstição e as dinâmicas de poder envolvendo mulheres marginalizadas em contextos históricos. - Anticristo (2009)
A exploração de temas tabu e o uso de imagens perturbadoras lembram o trabalho de Lars von Trier. - O Terror Folclórico Europeu
Filmes como O Homem de Palha (1973) e Midsommar (2019) também resgatam o folclore para criar narrativas profundamente simbólicas e aterrorizantes.
Por Que Assistir a A Maldição da Bruxa (Hagazussa, 2017)?
Ele não é um filme de terror convencional. Exige paciência, atenção e uma mente aberta para se conectar com sua narrativa silenciosa e simbólica. Com suas imagens hipnotizantes, trilha sonora sensorial e narrativa introspectiva, Hagazussa oferece uma visão única do gênero de terror, provando que o horror pode ser tanto uma experiência estética quanto emocional.